A indústria 4.0 (*), a chamada quarta revolução industrial não se limita somente aos muros da indústria em si. Muito mais abrangente até do que se imagina, essa nova fábrica estará conectada a uma cidade inteligente, um sistema de geração e distribuição de energia inteligentes, um sistema de saúde com inteligência e assim por diante. O prof. Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, referência no assunto, em seu livro “A Quarta Revolução Industrial” define essas transformações como a união do meio físico, digital e biológico. Se bem aproveitadas, o resultado propiciará possibilidades enormes de crescimento econômico e, talvez, algo que não se possa mensurar, a qualidade de vida.
São muitos os elementos que integram a indústria 4.0, também conhecida como indústria inteligente. Basicamente, listam-se: digitalização de processos, inteligência artificial, comunicação entre máquinas, manufatura aditiva, internet das coisas e robótica avançada (como a robótica colaborativa).
De modo sucinto, a indústria 4.0 trata-se de um conceito de automação dos processos fabris e administrativos. “É toda a cadeia compartilhando informações (e, nesse caso, o maquinário tem que estar preparado para tal), sem a interferência humana. É a automação dos processos vendas-administrativo”, explica João C. Visetti, diretor-presidente da Trumpf do Brasil, destacando que nem sempre a automatização ocorre na interface vendas – produção, diferentemente acontece na produção.
Sem limites de fronteiras, uma vez que os players de uma cadeia podem estar localizados em diferentes países e até continentes, a indústria 4.0 surgiu como termo em 2011, na Feira de Hannover, na Alemanha. “Esse foi o grande marco de transformações na companhia, pois participamos apresentando soluções, em conjunto com a Axoom (subsidiária que opera independente da Trumpf)”, ressalta Visetti. Líder de tecnologia no mercado mundial de máquinas-ferramentas utilizadas no processamento de chapa flexível, e também em lasers industriais, a Trumpf integra um comitê na Alemanha (país que está desenvolvendo o conceito da indústria 4.0 para a União Europeia) dedicado à pesquisa sobre a quarta revolução industrial. Tomam parte no comitê a Siemens e a Bosch.
“Desde o surgimento da indústria 4.0 houve muitas dúvidas se realmente todas as transformações propostas iriam vingar. Entretanto, hoje, há o real convencimento de que elas são inevitáveis e quem não as aderir, não terá chance de sobreviver no mercado produtivo”, sentencia Fábio Lima, professor do departamento de Engenharia de Produção da FEI (Faculdade de Engenharia Industrial).
Realidade – Segundo Lima, estamos em um momento de conscientização e entendimento dos conceitos e potenciais da revolução para cada indústria em particular. “Quanto ao período de tempo da teoria à prática – e diante da complexidade dos conceitos -, existem montadoras sugerindo algo em torno de 15 a 30 anos. “A boa notícia é que se percebe que a indústria nacional está sensibilizada da necessidade de entendimento e da adoção dos conceitos”, afirma o professor.
Os empresários brasileiros podem estar até de olho na indústria inteligente, mas “infelizmente, ainda, estamos engatinhando e muito distantes da realidade das fábricas japonesas, europeias e norte americanas. Até mesmo a China está investindo pesadamente em automação e robótica, ultrapassando os 100.000 robôs implantados em suas fábricas, no ano passado; enquanto no Brasil não chegamos a 2.000 robôs”, analisa Icaru Sakuyoshi, diretor-presidente da Motoman Robótica do Brasil, líder mundial na fabricação de robôs.
Importante destacar que a indústria 4.0 será cada vez mais automatizada e controlada por robôs. Há 40 anos atrás, a Motoman apresentou ao mercado seu primeiro robô (elétrico), sendo que já tem predestinado a nova geração para a indústria 4.0, com o recém lançado controlador YRC1000 para facilitar a interface com demais máquinas. Capaz de controlar até oito robôs, o YRC1000 é indicado para as mais diversas aplicações industriais, tais como: automobilística, autopeças, alimentícia e farmacêutica, entre outras.
O setor automotivo (inclui-se também o aeronáutico) continua sendo o maior consumidor de robôs e, consequentemente, desse novo conceito. Já o segmento de bens de consumo vem aumentando a demanda nos últimos anos, e deve conquistar um espaço maior.
Desafios – Ainda, segundo Sakuyoshi, a multinacional japonesa investe pesado na superação de seus produtos; e, como exemplo, citou a nova geração série GP, com os modelos mais rápidos do mundo. Porém, o executivo alerta para as dificuldades que a indústria nacional enfrenta a caminho da modernização, como a falta de linhas de créditos acessíveis, com taxas de juros semelhantes as aplicadas em países do primeiro mundo. “Temos o BNDES que poderia ser a chave dessa transformação, e algumas ações de incentivo a automação direcionadas às pequenas e médias empresas. Entretanto, os resultados são pouco satisfatórios. Neste sentido, precisamos de uma atenção especial para que a indústria nacional possa alcançar alta produtividade e competir globalmente”, argumenta.
Também o professor Lima admite a necessidade de investimento em maquinários e softwares para a adesão aos conceitos da indústria 4.0, inclusive, sendo necessária uma análise particular de cada indústria sobre o caminho a seguir já que essa implantação não é padrão.
Além disso, o fato de o Brasil possuir um sério déficit na educação é outro entrave a ser debelado. “A formação básica é dever do Estado, entretanto sabemos que ela é muito fraca. O profissional que vai conceber os sistemas da indústria 4.0 precisará ter entendimento (base) para que possa ser treinado pelas próprias empresas”, aponta Visetti.
De olho na formação de profissionais para a indústria inteligente, a FEI inaugurou seu laboratório de manufatura digital (LMD), em parceria com Siemens e SPI. “Esse laboratório recebeu aporte inicial (hardware e software) de mais de R$ 5 milhões e, no ano passado, conquistou um prêmio internacional do projeto PACE da General Motors, como melhor laboratório de manufatura digital entre os 59 laboratórios participantes, de 13 países”, comemora Lima.
O professor informa que estão sendo desenvolvidas atividades de ensino e pesquisa no LMD, e que um projeto de auxílio a uma pequena empresa acaba de ser concluído. Além do mais, firmou parceria com a KUKA Roboter para o recebimento de um robô colaborativo, por um período de seis meses, com possibilidade de renovação. Já a Schunk está doando as garras dos robôs, inclusive do colaborativo. “Temos ainda o laboratório de internet das coisas (IoT), em parceria com a Telefônica-Vivo, que terá suas tecnologias e conhecimentos integrados ao LMD em um modelo de colaboração interna entre laboratórios”, esclarece Lima.
Integrante de um comitê da VDI (Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha), que visa traçar estratégias de colaboração entre escolas e empresas, a FEI (em conjunto com o Instituto Mauá de Tecnologia e algumas empresas) participou do projeto de um demonstrador de manufatura avançada com diversos conceitos (na prática) da indústria inteligente. Realizado pela Abimaq e Senai, o projeto foi exposto na última edição da Feimafe, em maio.
Vanguarda – A Trumpf também aproveitou a Feimafe para apresentar o interativo e dinâmico Espaço TruConnect, criado especialmente para o visitante da feira conferir como funciona a informação entre máquina e sistema, e uma fábrica operando de forma autônoma, isto é, 100% nos moldes de indústria 4.0.
Sempre na vanguarda, no mês de setembro deste ano, a Trumpf inaugura em Chicago (coração do mercado norte-americano de processamento de chapa metálica) uma fábrica de demonstração conectada digitalmente. Toda a “cadeia de processo de chapa metálica” – desde a encomenda de uma peça até sua concepção, produção e entrega – está interligada de forma inteligente. Com 30 funcionários, a unidade é destinada a todos os que trabalham na conformação de chapas, sendo o grupo-alvo constituído de pequenos e médios empresários iniciantes com conectividade digital. O novo espaço mostrará, na prática, a interação de pessoas, máquinas, equipamentos de armazenamento, automação, softwares e soluções da indústria 4.0.
Considerando ser o momento adequado, Visetti menciona que para clientes que dispõem de máquinas a partir de 2012/13, a Trumpf está relançando uma versão (demo) gratuita com informações básicas de funcionamento desses equipamentos. “Através da Axxom, temos condições de integrar máquinas mesmo não sendo da Trumpf. Além disso, vamos oferecer soluções mais complexas desde análise de produção compartilhadas”, comunica o diretor-presidente. Em paralelo, a empresa também tem o serviço de monitoramento e diagnóstico à distância das máquinas. Um dos exemplos, é o projeto piloto que está sendo desenvolvido com todas unidades de laser da Mercedes Benz.
Importante ressaltar que há fábricas em locais remotos, sem conexão de alta velocidade. Nesse caso, a questão é: qual a conexão mínima para que elas (empresas) possam participar desse novo mundo, com alto fluxo de dados e a segurança nessa transmissão? Essa é apenas uma das discussões – ainda sem respostas, por parte do comitê alemão do qual a Trumpf integra.
Benefícios – Independente do tempo para a conclusão das questões que envolvem o conceito da indústria 4.0, uma coisa é certa: as vantagens oferecidas são muitas. Entre elas: eliminação de desperdício, rastreabilidade, personalização, confiança, eficiência, transparência e novas modalidades de negócios.
Visando se tornar uma plataforma exportadora global, a General Motors Mercosul acaba de anunciar o maior investimento da história da companhia no País: aporte de R$ 1,4 bilhão no Complexo Industrial Automotivo de Gravataí, Rio Grande do Sul. De acordo com Carlos Zarlenga, presidente da General Motors Mercosul, a medida objetiva o desenvolvimento de novos produtos e a introdução de conceitos inovadores de manufatura e qualidade 4.0. “O aporte permitirá ampliar nossa linha de produtos, com foco em conectividade total, segurança e eficiência energética. A fábrica será referência global em manufatura e qualidade 4.0”, assegurou Zarlenga.