Apesar do ambiente econômico ainda nebuloso, os fabricantes de veículos automotores têm motivos para acreditar que os bons resultados colhidos no ano passado se repitam em 2019
Por Ricardo Torrico
Considerando que 2018 foi um ano ainda de crise, com um índice de desemprego de dois dígitos e no pífio crescimento do PIB, confirmado pelo IBGE em 1,1%, o crescimento de 14,6% nas vendas de veículo novos, nacionais e importados, e de 6,7% na produção de veículos merece ser comemorado. Esses foram os principais resultados anuais consolidados pelo levantamento feito pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Dos números divulgados pela entidade, depreende-se que, mesmo com um índice de desemprego em torno de 12%, que tende a reduzir a demanda de bens duráveis, o mercado interno de automóveis manteve-se vigoroso e, ao que tudo indica, deve continuar assim em 2019.
A produção nacional de veículos só não foi melhor devido à queda de 17,9% nas exportações, fortemente prejudicadas pela redução das exportações à Argentina, principal cliente externo do setor automotivo. “O mercado argentino é responsável por 72% das vendas externas de automóveis e, com o país vizinho em grandes dificuldades, esse percentual caiu para 55% em 2018”, explica o presidente da Anfavea, Antonio Megale.
Metas Otimistas
Apesar dos resultados terem sido satisfatórios, eles não atingiram as projeções estabelecidas pela Anfavea já no segundo semestre de 2018, que confiava num crescimento de 11,1% sobre a produção alcançada em 2017. Vale observar, porém, que as projeções de desempenho setorial são, por definição, otimistas, sendo dificilmente alcançadas e raramente superadas.
Para 2019, a Anfavea trabalha com projeções quase tão otimistas quanto as de 2018, confiando num crescimento de 9% na produção total de veículos leves e pesados, passando dos 2,88 milhões a 3,14 milhões de unidades, ancorado na estimativa de um crescimento de 11,4% no volume de licenciamentos de veículos nacionais e importados, que indica o desempenho do mercado. Por outro lado, a entidade não aposta suas fichas na recuperação das exportações, estimando que devem cair 6,2%, ainda por conta da crise argentina. Esta projeção negativa já se fez sentir em janeiro deste ano, com uma queda de 46% nas exportações de veículos, em comparação com janeiro de 2018. Com tantas indefinições tanto no ambiente interno quanto no externo, as projeções da Anfavea ainda poderão sofrer grandes alterações − seja para melhor ou para pior − até a metade do ano, quando a entidade costuma revisá-las. Em um ou outro sentido, essas possíveis alterações devem alterar o grau de ociosidade da indústria automotiva nacional que, segundo a Anfavea, dentro do atual contexto, deve ficar em torno de 56% da capacidade instalada de 5,5 milhões de unidades por ano.
Projeções confirmadas Os resultados sobre o primeiro bimestre de 2019 confirmam as previsões otimistas da Anfavea para 2019, com um crescimento de 17,8% no licenciamento total de veículos − nacionais e importados nesse bimestre sobre o mesmo período de 2017. Refletindo essa evolução do mercado, a produção doméstica de veículo automotores cresceu 5,3% nesse período. Mas, como já estava previsto, a exportações globais do setor, registraram uma queda abrupta de 36,0%, em valor, em relação ao primeiro bimestre de 2017, refletindo ainda a forte retração das exportações à Argentina.
Confirmadas as tendências divulgadas no final de 2018, a Anfavea manteve suas projeções para 2019, que deverão ser revistas no meio do ano.