Q uando o assunto é comércio internacional, o País poderia ter um desempenho melhor, caso tivesse superado obstáculos há muito tempo já conhecidos, como as indefinições de política econômica, os problemas de logística e o próprio custo Brasil. “Hoje a crise e o valor da nossa moeda ajustada à realidade contribuem para uma redução considerável das importações. Mas, nem por isso as exportações estão crescendo, uma vez que ainda enfrentamos elevados custos internos e deficiência burocrática e de logística”, analisa o proprietário da Imexbra Trading S.A.,Osvaldo Sicardi. Argentino, Sicardi, há 35 anos, fundou a Imexbra, empresa nacional que opera no setor representações e agenciamentos de produtos siderúrgicos e ferroviários.
Com larga experiência no segmento siderúrgico, no qual começou a atuar em 1963, Sicardi se recorda que o cenário era bem diferente em 1974. “Foi quando decidi me radicar no Brasil. Na época, o País importava aço de todo tipo. No começo dos anos 80, a capacidade ociosa, o custo Brasil e a estrutura logística contribuíram para umperíodo próspero aos exportadores de aço. Entretanto, a política de manter o real sobrevalorizado frente ao dólar, em meados de primeira década deste século, os incrementos das importações começaram a prejudicar seriamente o processo produtivo das usinas locais e as importações chegaram a mais de 30% do consumo interno”, discorre o executivo.
Hoje o mercado internacional de aço está sobre ofertado em mais de 500 milhões de toneladas, sendo que muitas empresas necessitam fazer o caixa para enfrentar as dificuldades atuais. Por sua vez, os produtores locais tentam se resguardar da perda de demanda e da redução do consumo interno. As exportações estão dia a dia mais difíceis, frente a concorrência internacionalcada vez mais intensa por causa do excesso de oferta e da demanda reduzida.
Além do mais, a maioria dos países estão com sérias dificuldades financeiras para gerar recursos em divisas, destaca-se nesse cenário o baixo custo do produto exportado. Frente a esse quadro, Sicardi acredita que dificilmente o Brasil irá recuperar esses mercados perdidos. “Mesmo diante de uma produção suficiente para recuperar mercados, acrescida de capacidade técnica e profissional, faz-se necessário uma clara política de apoio por parte dos governos federias, estaduais e municipais.Também é importante melhorar e baratear os custos de logística terrestres e portuária, como ainda reduzir os entraves burocráticos administrativos”, afirma.
China cresce
Segundo os indicadores conjunturais de fevereiro/2016 do estudo “Indústria Brasileira de Bens de Capital Mecânico”, da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), entidade que representa mais de 7,5 mil fabricantes de máquinas do País, no primeiro bimestre deste ano a queda das exportações foi de 1,8% quando comparada com o primeiro bimestre de 2015. Mesmo com câmbio refletindo em ganhos de competitividade para o produtor nacional, ainda não se observa uma tendência de crescimento das exportações do setor. Muito embora, no mês de fevereiro as exportações de máquinas e equipamentos foram 14,5% superiores às registradas em janeiro, e 9,3% superiores às de fevereiro do anterior.
Os principais destinos das exportações foram para a América Latina, Europa e Estados Unidos. Ainda, em fevereiro, observou-se uma redução da participação relativa na América Latina e forte aumento na China que saiu de uma participação de pouco mais de 1% para quase 11%.
A análise da Abimaq, realizada pelo Departamento de Competitividade, Economia e Estatísticas, mostra que também caíram as importações de máquinas e equipamentos em relação a janeiro deste ano de 19,8% e chegaram a US$ 1,069 bilhão em fevereiro último. Na comparação com fevereiro do ano anterior ocorreu queda de 30,0%. No bimestre, a queda foi de 30,2% contra o bimestre do ano anterior e a tendência continua sendo de queda para 2016.
De acordo com o estudo, o crescimento da China no primeiro bimestre deste ano não pode ser visto como tendência, uma vez que esse aumento se deve a poucos equipamentos importados de alto valor unitário.
Inovar, a saída
Um grave problema enfrentado pelo Brasil é o baixo valor agregado das exportações. “Se fizermos a lista de empresas que exportam valor agregado da Suécia ou da Suíça, ficaríamos surpreendidos que países tão pequenos tenham tantas empresas mundiais como referências. Nesse aspecto, também o setor de aço não tem se diferenciado. Neste sentido, se exportarmos massivamente minérios, sofreremos na importação de produtos de valor agregado”, julga o diretor de Operações e Relações com o Mercado do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), Fernando Lorenz, também palestrante da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná).
Considerando que o setor do aço não se diferencia muito de outros segmentos, uma vez que o País tem sempre exportado commodities, Lorenz afirma que a agregação de valor está intimamente ligada ao bem-estar da população de um país. “Se queremos melhorar nossa performance temos que agregar valor internamente e lembrar que o mercado global soma sete bilhões de pessoas. Para sermos um grande ator nesse mercado global, temos que modificar nosso modo de pensar e de atuar”, sentencia.
Diante o temor da crise, e falando para empresários na Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná), Lorenz aponta como saída “a busca de oportunidades e a inovação, mesmo em setores muito tradicionais como o aço, alumínio e demais metais. O grande desafio desse segmento é incorporar a sustentabilidade não como uma soma de fatores, mas como a integração das dimensões financeira, ambiental e social em todos os processos. Se isso não for feito, o setor vai sofrer a pressão dos novos materiais”, alerta o executivo.