Após um primeiro trimestre em recuperação, a indústria de máquinas e equipamentos sofreu um forte impacto da retração da atividade econômica, provocado pela pandemia do novo coronavirus, comprometendo seus resultados semestrais
Por Ricardo Torrico
Após quatro meses da pandemia da covid-19, a indústria nacional de máquinas e equipamentos sente o impacto do enfraquecimento do mercado interno e externo, embora os últimos resultados apontem para uma queda menos brusca da receita total. De acordo com o levantamento mensal feito pelo Departamento de Competitividade, Economia e Estatística (DCEE) da Associação Brasileira da Indústria Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), em junho, as receitas líquidas do setor recuaram 12,4%, depois de uma queda de 14,1% em maio e de 25,6% em abril. Com esses resultados mensais, no segundo trimestre do ano, encolheu 17,4% na comparação com o mesmo período de 2019. Já no acumulado do primeiro semestre, o faturamento do setor encolheu 8,5%.
Apesar da retração registrada no segundo trimestre, esses resultados têm sido menos negativos a cada mês por conta das receitas internas. Em junho, as receitas internas encolheram 10,1% na comparação interanual, queda menos intensa do que as quedas de 14,9% observada em maio e de 26,5%, em abril, o que reforça a hipótese de que a economia brasileira já se encontre numa fase de recuperação dos investimentos. Entretanto, a sequência de resultados negativos nos últimos meses, provocou uma queda de 17% nas receitas internas no segundo trimestre, eliminando o avanço de 2,6% no primeiro trimestre e provocando uma queda de 7,8% no acumulado do primeiro semestre.
Calcanhar de Aquiles
Na avaliação do DCEE da Abimaq, as exportações de máquinas têm sido o ‘calcanhar de Aquiles’ na composição da receita total do setor, já que, mesmo antes da pandemia, apresentava dificuldades para competir no mercado externo. Em junho, as receitas de exportação apresentaram uma queda de 35,1% na comparação com o mesmo mês do ano passado, depois de uma queda de 34,7% em maio e de 41,6% em abril. No acumulado do trimestre, as receitas de exportação encolheram 37,3% e, como no primeiro trimestre já havia registrado uma queda de 12,8% das receitas externas, no acumulado de janeiro a junho, esse índice acumulou uma retração de 25,4%.
O DCEE da Abimaq atribui essa queda intensa e persistente à desaceleração das economias mundiais, já que ocorre de forma generalizada nos diversos segmentos do setor, bem como nos principais destinos das máquinas e equipamentos fabricados no Brasil. No acumulado de janeiro a junho, as vendas para os Estados Unidos caíram 31,4% em relação ao mesmo período do ano anterior, assim como 23,9% para os países da América Latina e 21,7% para a Europa.
Importações em queda
Se as decisões de investimento de empresas estrangeiras permanecem mornas, no Brasil também não há indícios apontando para uma saída da crise no médio prazo. Em junho, as importações de máquinas e equipamentos recuaram 32,5% na comparação interanual e a queda foi mais forte dos últimos três meses. Com isso, o segundo trimestre do ano fechou 26,5% abaixo do mesmo trimestre do ano passado. Entretanto, como o primeiro trimestre havia registrado uma forte entrada de máquinas no país, as importações acumularam um saldo positivo de 6,2% em todo o primeiro semestre.
Consumo comprometido
Mesmo tendo ocorrido uma queda de 7,8% no faturamento do mercado interno em 2020, o consumo aparente (produção interna – exportações + importações) cresceu 7,9% no primeiro semestre, puxado pelo desempenho positivo das importações realizadas antes do início da pandemia. No entanto, a recente reversão das importações derrubou o consumo nos últimos meses: em junho, o consumo aparente se retraiu 12,1%, após uma queda de 11% em maio e de 9,6% em abril, acumulando um encolhimento de 10,9% no segundo trimestre.
Capacidade menos utilizada
O desempenho da atividade produtiva é também medida pelo nível de utilização da capacidade instalada (NUCI) da indústria. Após quatro meses de pandemia, foi registrada a primeira queda acentuada do NUCI do setor de máquinas e equipamentos, caindo de 72,9% em maio para 64,6% em junho. Esse resultado reflete o arrefecimento da produção, notada principalmente nas empresas de grande porte, em razão do desaquecimento dos mercados e da dificuldade de importação de insumos.
A carteira de pedidos do setor, que iniciou o ano com uma média de 9,9 semanas para o seu atendimento, registrou 9,4 semanas em junho. Segundo o DCEE da Abimaq, apesar de o setor já ter passado pelo pior momento da crise, o diagnóstico traçado aponta para uma recuperação mais lenta do que a desejada.
Efeito no emprego
Em junho, o setor registrou 295,8 mil trabalhadores contratados, uma redução de 3,7% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Entre janeiro e junho, o setor demitiu 6,6 mil funcionários, após ter iniciado o ano com 3,1 mil contratações. O DCEE da Abimaq considera que a criação de novos postos de trabalho continuará dependendo do ganho de confiança dos empresários, do aumento real da capacidade instalada e da perspectiva de aquecimento dos mercados consumidores.
“O motivo do fraco desempenho do nosso setor foi o aumento da ociosidade dos meios de produção, provocada pela crise mundial, e também alguns problemas localizados de falta de demanda por alguns produtos. Mas o fato é que a queda foi muito grande. Isso não é normal, já que nós nunca vimos uma queda tão grande nas exportações, até porque, como nós exportamos para muito países, quando começa uma crise num mercado, não há crise nos outros, e o resultado geral acaba se equilibrando. Então, nós acreditamos que a queda nas exportações tem tudo a ver com a pandemina da covid-19”, afirma o presidente executivo da Abimaq, José Velloso.
“Quanto aos próximos meses, nós entendemos que as perspectivas deverão melhorar. O setor do agro − principalmente os segmentos de celulose, cana de açúcar e cereais − está puxando essa melhora, e o nosso setor de máquinas agrícolas deverá crescer este ano em torno de 5%. Mas o que nós realmente precisamos são de medidas de impacto, como a aprovação dessa reforma tributária o mais rápido possível, para que possamos eliminar esse ‘manicômio tributário’ que nós temos − mas também não podemos produzir um ‘frankstein tributário’, que é aquilo que o ministro Guedes está querendo fazer, fatiando a reforma tributária. É preciso pôr o Brasil para andar sem aumentar a carga tributária; é preciso desonerar os investimentos para que nós possamos voltar a crescer”, opina o presidente da Abimaq, João Marchesan.