domingo, dezembro 22, 2024
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União das forças e defesa da produtividade para superar a crise

Empresários do setor mantêm-se céticos em relação à melhora do desempenho da indústria, mas apontam saídas para amenizar o atual quadro de dificuldades

União das forças e defesa da produtividade para superar a crise

Os economistas em suas avaliações sobre o momento delicado que passa a economia brasileira costumam prever uma recuperação gradual deste cenário somente a partir de 2017. De um modo geral, a expressão “crise econômica” faz parte do discurso corrente de uma ala a que o saudoso jornalista Aloysio Biondi chamava de “catastrofista”. O fato é que a situação é grave, porém não ao ponto de se considerar que o Brasil chegou ao fundo do poço político e econômico.

No último relatório sobre os números do setor (janeiro), o Instituto Aço Brasil sinalizou ainda para uma situação de queda. Segundo a entidade, o consumo aparente nacional no mês foi de

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1,3 milhão de toneladas de produtos siderúrgicos, 35% menor que igual período do ano passado. “Quanto às vendas internas, o resultado de janeiro de 2016 foi de 1,2 milhão de toneladas de produtos, redução de 26,8% em relação a janeiro de 2015”, diz o IABr em suas estatísticas.

União das forças e defesa da produtividade para superar a criseAs importações, devido à desvalorização do real e ao fraco consumo de aço no país, apresentaram redução de 72,4% em relação a janeiro de 2015, totalizando 105 mil toneladas equivalentes a US$ 123 milhões. Alguns especialistas do setor acreditam, por exemplo, que será a tônica dos próximos meses. As exportações podem seguir esta linha. De acordo com o estudo, remessa de produtos siderúrgicos para outros países, em janeiro, somou 1 milhão toneladas (US$ 372 milhões), “representando uma queda de 8,6% em volume e de 45,4% em valor, quando comparadas a janeiro de 2015”.

Números descendentes à parte, os empresários precisam “pagar suas contas” e descobrir saídas para o impasse. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) ergue a bandeira da valorização deste importante segmento da produção nacional. “Entretanto, em que pese os enormes desafios, nós estamos e continuaremos motivados em defesa dos interesses da nossa indústria”, bradou o presidente do Conselho de Administração da Abimaq/Sindimaq, Carlos Pastoriza. Na verdade, será preciso unir as forças para a mudança do atual panorama.

Mas a questão é identificar corretamente a relação “pessimismo versus realismo”. Representando os fabricantes de estruturas metálicas, estes ligados à cadeia da construção civil, a Associação Brasileira da Construção Metálica (Abcem) está cética. “Considerando a indústria do aço, somos apenas consumidores. De toda forma, tanto quanto a maioria das indústrias, as expectativas na construção civil não são nada animadoras. Após um ano com grande retração, não esperamos recuperação em nosso segmento em 2016”, avaliou o diretor-executivo, Ronaldo do Carmo Soares.

Para Soares, a crise de confiança junto ao governo precisa superada. E como o setor se mantém no mercado? Eis a sua resposta: “A sobrevivência vem sendo conseguida com redução significativa das margens dos negócios, e uma busca enfática pela melhoria de produtividade”. Já Pastoriza, da Abimaq, promete trabalho árduo e contínuo e ações junto ao Executivo. A entidade irá apresentar propostas e cobrar ações que contribuam na reversão da baixa competitividade do Brasil. Na visão de Pastoriza, há um problema crônico aliado à falta de medidas estruturantes capazes de colocar o País no rumo do desenvolvimento.

 

Importação generalizada

O professor de Engenharia da Universidade Santa Cecília e consultor técnico da Inspebras, Willy Ank de Morais, reconhece o atual momento difícil que passa a siderurgia brasileira e considera que “causas internas e externas” desta situação poderão perdurar em 2016. Mas espera que a intensidade do problema diminua ao longo do ano. Um dos aspectos que traz incômodo é o processo de substituição da produção nacional pela importada. E admite: “O nosso comércio/indústria importa produtos de maneira bem generalizada”.

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Em sua opinião, a mudança de patamar da cotação do dólar e do euro trouxe alívio a muitos setores exportadores da indústria e aos que concorrem com os produtos importados. “No caso dos setores exportadores, este alívio não é imediato, pois a exportação, assim como a venda de qualquer produto a um novo mercado, não é automática”, adverte. Willy entende que negociações, ajustes na cadeia produtiva, incorporação de novas tecnologias e procedimentos são necessários para atender às exportações.

“Por outro lado, a moeda nacional mais fraca provoca aumento dos custos de importação de matéria-prima. Insumos e equipamentos impactam negativamente todos os setores da economia de forma mais direta ou indireta. Nós mesmos estávamos com um plano de investir em equipamentos de pesquisa, a grande maioria importada, e tivemos que postergar tais investimentos”, considera o consultor. Na análise de Willy, mesmo os empresários brasileiros, em função de efeitos econômicos internos e a dificuldade de importar outras matérias-primas e equipamentos, enfrentam dificuldades no quesito comercialização.

Observador atento do atual panorama da indústria, o professor da Universidade Santa Cecília aponta dois aspectos que explicam as dificuldades produtivas de um fabricante de equipamentos industriais – consumidor de aço por excelência. Primeiro – este fabricante encontra maiores dificuldades de vender seus produtos em função das atuais condições econômicas. Segundo: o seu processo de fabricação necessita, muitas vezes, de componentes importados, cujo custo de importação aumentou muito com a atual cotação. “Os possíveis fornecedores locais ainda não estão capacitados ou não tem um custo similar ao anterior aos importados antes da mudança da cotação”, lembra.

Willy é pessimista quanto à situação delicada do setor, mas prevê alguma recuperação em 2016: “Considerando um possível cenário da evolução econômica nacional e a continuidade do cenário externo, com a manutenção do preço das commodities e do crescimento dos mercados emergentes (especialmente a China), acredito que, nos primeiros meses de 2016, ainda tenhamos uma demanda mais fraca em comparação ao ano anterior, mas a situação deve melhorar nas comparações mês a mês ao longo de 2016”.

Para o especialista, sobretudo no segundo e terceiro trimestre, a demanda nos setores primários deve acelerar, inclusive para o caso do aço. Contudo, na sua ótica, tudo irá depender de uma evolução do cenário interno, que deve ocorrer ainda no primeiro semestre. Fora isso, projeções mais precisas são muito difíceis para serem feitas agora.

Willy destaca que empresas que fazem ajustes, otimizam a sua capacidade produtiva, a geração e incorporação de inovações atravessarão, claro, um período turbulento. Por outro lado, também conseguirão saírem bastante fortalecidas da atual situação.

Este pode ser o caso, por exemplo, da Icon Máquinas e Equipamentos, que conseguiu fechar 2015 com investimentos em tecnologia e apresentou mais uma solução para a sua linha de equipamentos pesados. Para se ter uma ideia, a empresa, com sede em Criciúma, concluiu recentemente a fabricação de um Rotor para britador de impacto com processo fabril de alta complexidade.

A complexidade de produção desta peça demandou adequada qualificação dos soldadores e da indústria. Os técnicos passaram por treinamentos, que certificaram o trabalho e foram acompanhados e inspecionados durante o processo produtivo. “A Icon possui profissionais que realizam inspeções qualificadas para o processo de soldagem que contemplam qualquer requisito de qualidade de todos os nossos clientes”, pontua o supervisor de produção, Marinelson Machado. Na busca por qualificação e aprimoramento, as empresas do grupo Icon estão em processo de certificação também nas normas de qualidade da ISO 9001.

Willy ressalta sua tese de fortalecimento dos profissionais: “Este é um momento para se investir em formação e capacitação da mão de obra. Se atualmente há um desaquecimento das atividades industriais e no emprego, quando ambos retornarem, os mais se e/ou os mais capacitados serão os primeiros a se destacarem e obterem melhores posições no mercado”, opina. Na Europa e Estados Unidos, as empresas adotaram há tempos o processo de implantação do Sistema de Gestão da Qualidade. No Brasil, infelizmente, as iniciativas são tímidas nesta área.

Demanda por equipamentos na agricultura poderá crescer

O setor agrícola pode manter a indústria do aço razoavelmente aquecida? É verdade que os crescentes investimentos feitos no agronegócio geram resultados diretos, traduzidos pelos anúncios de safras recordes. É um setor que também manteve-se protegido ante a crise econômica. O consultor Willy Ank de Morais destaca três condições fundamentais por meio das quais ocorrerá, em sua opinião, manutenção – com eventuais flutuações sazonais – de tendência de aumento, em médio e longo prazo, no consumo de equipamentos agrícolas.

1. Adaptação dos equipamentos existentes (curto prazo)

Esta é uma demanda que só tende a crescer, pois dificilmente as áreas de plantio diminuirão, a não ser em casos específicos e regionalizados. Naturalmente, os equipamentos agrícolas são empregados em condições mais severas em relação aos demais tipos de maquinário industrial ou rodoviário. O fato induz a uma maior necessidade de manutenção e renovação de equipamentos.

2. Compra de novos equipamentos para as áreas de plantio já existentes (de curto a médio prazo)

A quebra e o surgimento de novos equipamentos, assim como os ganhos em produtividade pelo uso de novas tecnologias (preparação de terra, sementes, irrigação, etc.) demandam mais investimentos em mecanização. Este é um tipo de crescimento interessante, pois muitas vezes requer que a indústria nacional inove para atender as demandas. Infelizmente é também um crescimento mais sensível às turbulências do mercado, pois neste caso é possível recuperar ou adaptar os equipamentos existentes, atendendo total ou parcialmente tais demandas. No caso do atendimento parcial, este é tipicamente compensado pelo maior número de horas de trabalho no campo.

3. Aquisição de novos equipamentos pela expansão das áreas de plantio (de médio a longo prazo)

Esta é a condição que exibe impacto na demanda por novos equipamentos. Com novas áreas de plantio surgindo, torna-se necessário o uso de equipamentos que, obviamente, não existiam. Apesar de ser possível deslocar maquinário já usado das áreas anteriores para outras novas, otimizando o seu uso, as grandes distâncias e as grandes áreas envolvidas geralmente não viabilizam este tipo de operação, pelo ao menos em longo prazo. Por isso, cada hectare a mais de terra empregada para fins agrícolas vai impactar no uso de novos equipamentos agrícolas, sejam implementos, tratores, colheitadeiras, caminhões ou caminhonetes.

Neste sentido, o Brasil possui enorme potencial de crescimento, pois existem enormes faixas do Cerrado brasileiro que se encontram esgotadas pelo uso anterior com pasto. Estima-se: o total destas áreas é o equivalente à atual empregada na agricultura hoje. Assim, um dos grandes focos de atuação nas próximas décadas está na recuperação das enormes extensões de terra degradadas.

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