Por Ricardo Torrico
Em entrevista exclusiva à Revista do Aço, o diretor executivo da Soluções Usiminas, Ascanio Merrighi, avalia a situação e perspectivas do mercado desta renomada empresa dedicada à transformação e distribuição de aços planos produzidos pela Usiminas.
Revista do Aço – Como evoluiu o faturamento da Soluções Usiminas em 2017, em comparação com os anos anteriores?
Ascanio Merrighi – Em 2017, o faturamento líquido da Soluções Usiminas voltou a superar os R$ 2 bilhões, o que não acontecia há vários anos, confirmando o acerto de uma estratégia focada na melhoria da qualidade dos negócios gerados e na performance de custos industriais. Com isso, fechamos com o melhor resultado em termos de geração de valor adicional à operação da controladora na história da empresa, com R$ 101,1 milhões de Ebitda (4% de margem Ebitda). A geração de Ebitda quase dobrou em relação a 2016, que já havia sido o melhor da empresa, sem fatores extraordinários, não operacionais (vendas de ativos, estorno de provisões etc.). Estamos vindo numa curva ascendente de resultados.
RA – Quais são as perspectivas do mercado da empresa neste ano e nos próximos?
Merrighi – Os desafios e as oportunidades são inúmeros. Estamos otimistas para o ano; o Instituto Aço Brasil estima um crescimento de 9% no consumo de aço no Brasil e também há estimativas de crescimento do PIB entre 2% e 3%, segundo os últimos boletins Focus, do Banco Central. Ainda assim, é importante sinalizar que as expectativas de futuro serão muito dependentes dos rumos que a economia tomar. Como temos muitas incertezas, seguimos focando nosso planejamento em um crescimento progressivo e cuidadoso. O que temos de palpável, por enquanto, e que imaginamos estar impulsionando as perspectivas mais otimistas de mercado, é a credibilidade da equipe econômica e os resultados práticos que tem colhido, como a redução da inflação e da taxa de juros. Cabe ressaltar, entretanto, que os números positivos esperados ainda não são suficientes para a recuperação de perdas acumuladas.
RA – Quais são os fatores que inibem a ampliação do mercado?
Merrighi – Pelo que temos acompanhado, esse contexto ainda não está sendo revertido em investimentos de capital (FBCF ou formação bruta de capital fixo) ou em infraestrutura. Ainda há muito a recuperar em setores importantes, como mercado imobiliário ou Óleo e Gás, que praticamente pararam, mas já dão tímidos sinais de retomada. Existem mudanças estruturais que nos impedem de performar como um mercado “convencional”. Por exemplo, a maior incidência tributária em construções de estruturas industrializadas (como as estruturas de aço) contra aquelas executadas com métodos tradicionais, construídas no próprio canteiro, sem valor agregado algum, é algo bizarro e característica única de nosso mercado. Em qualquer local onde é definido que se deve promover a industrialização, o equilíbrio é diferente. O resultado são empregos mais qualificados, mais dinamismo no giro da economia e maior consumo de aço por habitante. Esta distorção contribui muito para que o Brasil não ultrapasse de forma significativa e sustentável o patamar de 100kg/hab/ano, que sustenta há 40 anos como mercado consumidor de aço. Outros países, com condições similares ao nosso, estabilizam-se facilmente acima de 300kg/hab/ano. Nossas distorções internas causam esse resultado.
RA – Em sua opinião, as medidas que o governo já implementou ou pretende implementar são suficientes para estimular a recuperação do mercado? O que mais poderia ser feito?
Merrighi – Houve avanços, como a legislação trabalhista e a credibilidade da equipe econômica. O que o governo mais deveria fazer para impulsionar a economia, definitivamente, é indicar rumos mais sustentáveis para sua própria equação de receitas e custos, sem, obviamente, onerar ainda mais os contribuintes. Deveria haver uma política industrial estruturada, multissetorial e de defesa comercial do país, além de uma agenda intensa de aumento da competitividade das portas das empresas para fora, aumento da competitividade global do País, atacando as principais questões que constroem o desajustado Custo Brasil. Como ambiente de negócios estamos muito mal posicionados em rankings de custos logísticos, custos de energia, custo de capital, impactos de impostos e parâmetros trabalhistas (de custos adicionados a exigências legais descalibradas, como atendimentos a normas e regulações que só existem aqui). Medidas que reduzam custos da máquina estatal e aumentem a competitividade do ambiente de negócios no contexto global poderiam gerar recursos a ser reinvestidos no aumento contínuo da competitividade e na melhoria da qualidade do País. Um trabalhador custa para a empresa o dobro do que recebe; se uma maior parcela fosse para o seu bolso, entraria mais dinheiro para girar a economia, sem acréscimos de custos via financiamentos/endividamentos etc. Se a máquina custasse menos, parte dos ganhos poderiam ser revertidos em menos impostos ou mais investimentos na infraestrutura coletiva, por exemplo. Precisamos construir este ciclo virtuoso e duradouro.
RA – O senhor gostaria de fazer algum comentário adicional que considere pertinente?
Merrighi – Nas discussões que acompanho sobre carga tributária no Brasil, foca-se muito na sua intensidade, e poucas vezes na sua complexidade. Talvez a complexidade da estrutura tributária seja ainda mais prejudicial que sua intensidade. Como temos deficiências estruturais que impedem um ataque direto à intensidade tributária, um bom começo poderia ser atacar sua complexidade, simplificando a estrutura tributária para, em um próximo passo, buscar sua redução efetiva com um aumento de arrecadação que a primeira medida propiciaria. Várias iniciativas institucionais são feitas junto ao governo e sentimos que hoje há mais receptividade a estas abordagens. O Brasil, com suas dimensões continentais e sua riqueza de recursos naturais, deveria focar muito em ser uma economia de escala intensa, completa, capaz de competir globalmente em qualquer segmento de maior valor agregado. É muito pouco ambicioso abdicarmos de outros setores para nos posicionarmos como uma economia de commodities agrícolas e minerais.
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