No primeiro trimestre de 2020, a economia brasileira enfrenta uma conjunção perversa de ameaças, que não permitem prever um crescimento maior do que 2% no PIB anual
Por Ricardo Torrico
O mundo anda preocupado com a perspectiva de que, este ano, o crescimento do PIB da China se reduza a 5%, enquanto o do Brasil, se passar de 2%, será motivo de comemoração. Aproximar o crescimento da economia nacional do patamar chinês é um desafio praticamente inatingível, mas perfeitamente explicável: a falta de políticas econômicas de longo prazo, que o governo atual tenta resolver com remédios amargos e de efeito ainda duvidoso.
Na quarta-feira 4 de março, o IBGE anunciou o índice oficial de 1,1% para o crescimento do PIB nacional em 2019 – o mesmo percentual de 2018 e inferior ao 1,3% de 2017. Não foi uma grande novidade para o mercado, que tem o hábito de acompanhar pari passu a evolução desse índice desde o primeiro mês de cada ano. Mas certamente foi um ‘balde de água fria’, considerando que o resultado obtido foi exatamente a metade da previsão feita pelo Banco Central no início do ano passado. Depois do índice de 2019 ter sido anunciado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem prometido um crescimento de, pelo menos, 2% até o final do ano, o que é um motivo de preocupação, já que previsões oficiais como essa costumam não ser cumpridas.
A evolução do PIB é apenas um dos dados que os agentes do mercado avaliam para nortear o rumo dos seus negócios. No caso do Brasil, há outros fatores que também precisam ser levados em conta, com destaque para as reformas estruturais – da Previdência, Administrativa e Tributária –, tidas como indispensáveis dentro da política econômica liberal adotada pelo novo governo para recolocar o País nos trilhos do desenvolvimento. O problema é que tais reformas, prometidas para o final de 2019, ainda têm um longo caminho peça frente para serem aprovadas e, até lá, deve prevalecer o clima de incerteza.
Desafios adicionais
Em fevereiro, um novo e inesperado problema veio se somar ao panorama já nebuloso: a drástica redução da atividade econômica mundial, provocada pela epidemia do Covid-19, um novo coronavirus, que começou na China, mas que não demorou a se alastrar por dezenas de países. O fato de ter surgido na ‘fábrica do mundo’, que reduziu drasticamente sua atividade industrial, provocou outra ‘epidemia’, desta vez econômica, devido à queda na demanda de matérias primas e à redução do abastecimento global de insumos industriais chineses.
Como se isso não bastasse, na primeira semana de março, dois dos maiores produtores de petróleo, a Rússia e Arábia Saudita, começaram uma inesperada guerra de preços, que provocou quedas drásticas dos preços dessa commodity no mercado mundial. O que pode ser uma boa notícia para as empresas de transporte e os donos de automóveis, é uma péssima notícia para os investidores e agentes econômicos em geral, já que, ante a incerteza que provoca, o reflexo imediato é ‘colocar o pé no freio’.
Em termos práticos, ocorreu uma queda abrupta nos índices das principais bolsas de valores mundiais. Na segunda-feira 9 de março, o pânico nas bolsas globais provocou uma queda de 12,17% no índice Bovespa – a maior queda percentual diária desde 10 de setembro de 1998, ano da moratória russa! No Brasil e demais países periféricos, qualquer queda nas bolsas de valores se traduz automaticamente em nova valorização do dólar, que tem batido recordes históricos.
Perspectivas
Fazer uma projeção clara e consistente dentro desse panorama nebuloso – com mais incógnitas do que variáveis – é quase um exercício de adivinhação. No final do primeiro trimestre de 2020, a única certeza é que – assim como as epidemias –, cedo ou tarde, as crises econômicas também passam. O que não se sabe é quando essa recuperação deve ocorrer e quais serão as sequelas negativas para a maioria das economias e cidadãos.
As próximas matérias desta edição enfocam a situação e perspectivas dos principais setores industriais do País – automotivo, construção civil e máquinas e equipamentos –, através da análise das entidades que os representam. Aos empresários cabe usar essas informações para balizar seus próximos passos dentro do denso nevoeiro que se formou sobre a economia globalizada.
CONSUMO de AÇO AUMENTA, mas PRODUÇÃO CAI
Os números colhidos em janeiro deste ano pelo IABr indicam uma queda de 11,1% na produção de aço bruto e uma elevação de 9,8% no consumo aparente
Por Ricardo Torrico
Produção – Em janeiro de 2020, a produção nacional de aço bruto foi de 2,7 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 11,1% frente ao mesmo mês de 2019. A produção de laminados foi de 2,0 milhões de toneladas, apresentando uma alta de 4,5% na mesma base de comparação. A produção de semiacabados para vendas totalizou 605 mil toneladas, com uma queda de 17,9% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Vale lembrar que, devido à perda que ocorre durante o processo produtivo do aço, a soma da produção de laminados e semiacabados pronto para serem vendidos não equivale ao total da produção de aço bruto.
Vendas e consumo – As vendas internas aumentaram 7,2% frente a janeiro de 2019, atingindo 1,5 milhão de toneladas. O consumo aparente de produtos siderúrgicos foi de 1,8 milhão de toneladas, o que representa um aumento de 9,8% frente ao apurado no mesmo mês do ano anterior.
Exportações – As exportações de janeiro de 2020 foram de 1,1 milhão de toneladas, ou US$ 529 milhões, o que resultou em uma queda de 30,4% e 44,5%, respectivamente, na comparação com o ocorrido no mesmo mês de 2019.
Importações – As importações de janeiro de 2020 alcançaram 228 mil toneladas e US$ 229 milhões, resultando em uma alta de 28,8% em volume e de 8,0% em valor, na comparação com janeiro de 2019.