Um estudo da Anfavea mostra a evolução da indústria automotiva na década passada, que esteve recheada de obstáculos para o setor
Por Ricardo Torrico
No início de fevereiro, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apresentou um estudo que mostra a evolução da indústria, dos produtos e do mercado automotivo na década passada. O período se caracterizou pela contínua oscilação de seus indicadores, com destaque para o principal deles, a produção. Em 2010, o setor produziu 3,38 milhões de veículos, atingiu o pico de 3,71 milhões em 2013. A partir de daí caiu até 2,18 milhões, em 2016, recuperando-se parcialmente até 2019, quando produziu 2,94 milhões de unidades – ou seja, uma queda de 13% entre os dois extremos. O estudo também registra que o setor conseguiu manter parcialmente o seu nível de emprego: começou a década com 118 mil e terminou com 107 mil pessoas empregadas – uma redução de 9%.
Outro dado importante é que, entre 2010 e 2019, oito novas marcas iniciaram sua produção e 17 novas fábricas foram inauguradas no País. Assim, neste ano, o setor conta com 67 fábricas, localizadas em 10 estados. O total de veículos exportados durante toda a década foi de 5,2 milhões, começando com 730 mil e terminando com 408 mil. O principal mercado externo dos veículos brasileiros tem sido a Argentina, responsável por 63% das exportações em 2010 e 49% em 2019.
Recursos de fora
Segundo os números registrados no Banco Central, sem o socorro das matrizes, muitas montadoras poderiam sucumbir à longa recessão da segunda parte dos anos 2010. No total, houve um ingresso líquido de US$ 24,1 bilhões, que foram investidos em produtos, tecnologias e modernizações. “Os anos 2010 foram um teste sem precedentes à resiliência da indústria automotiva nacional, e a década de 2020 dá todos os sinais de que será a mais disruptiva na história do nosso setor e da mobilidade. Vale ressaltar que as montadoras absorveram a queda de produção tentando preservar os empregos em nossas fábricas na medida do possível. A redução das vagas em nosso setor foi muito menor do que o tombo do mercado”, afirma o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.
Novos desafios
Além de uma grande recessão, a indústria nacional enfrentou desafios comuns a todo o setor automotivo global, que é a mudança dos hábitos de consumo e mobilidade. De acordo com levantamento da Anfavea, o Brasil já tem 253 aplicativos de transporte, fenômeno que impacta a forma de venda de veículos. Um exemplo dessas mudanças são as vendas diretas, que pouco sofreram nos anos de depressão do mercado e hoje representam 37% dos licenciamentos de veículos leves no País, excluídas daí as vendas PcD (Pessoas com Deficiência), uma venda varejo com isenções, que por lei é considerada uma espécie de faturamento direto. Entre os vários segmentos de venda direta, as locadoras lideram com quase 20% do mercado total. “Várias empresas terceirizam suas frotas, muitos motoristas de aplicativos usam carros de locadoras, e assim esse canal de vendas torna-se fundamental para o setor automotivo”, explica o presidente da Anfavea.
Na visão de Moraes, a década conturbada que passou deixa várias lições para que a indústria e o Brasil enfrentem os grandes desafios dos próximos 10 anos. “Há muito espaço para melhorar as formas de financiamento de veículos, aumentar a competitividade, ampliar as exportações e explorar o potencial criativo da indústria instalada no País. Só assim cresceremos de forma consistente, sustentável, gerando empregos de qualidade e surfando nas novas tendências de mobilidade conectada”, resume o presidente da Anfavea.
Projeções
A Anfavea prevê que, este ano, o setor deve produzir 3,160 milhões de veículos, o que significa um aumento de 7,3% sobre os 2,945 milhões produzidos em 2019. Já as exportações devem cair 11,0%, passando do total de 428 mil veículos exportados em 2019 para 381 mil, este ano. A entidade atribui essa provável queda, principalmente, à redução das exportações à Argentina, provocada pela crise que o país vizinho enfrenta.
SALÃO DO AUTOMÓVEL É ADIADO PARA 2021
No dia 6 de março, a Anfavea e a Reed Alcântara Machado comunicaram o adiamento da edição deste ano do Salão do Automóvel de São Paulo para 2021. O presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, destacou que “o Salão do Automóvel é um evento que precisa evoluir e refletir o momento de disrupção tecnológica que nossa indústria está vivendo. Em conjunto com a Reed, tomamos a decisão de adiar a edição do Salão de 2020 para reduzir custos e termos tempo de avaliar novos formatos. A revisão do Salão não é um movimento localizado, mas está acontecendo em todos os países do mundo, pelos mesmos motivos.” |