terça-feira, março 25, 2025
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Máquinas e equipamentos

Demanda ainda mais reprimida pela crise ou Demanda (ainda mais) reprimida pela crise

Se depender da visão otimista do governo, divulgada com insistência, o Brasil já superou a crise e sua economia se encontra em franca recuperação. O grande salto para a frente só dependeria da implementação das tão propaladas reformas trabalhista, já aprovada pelo Congresso, e da Previdência, ainda em negociação. Se, por um lado, pode-se dizer que o pior já passou, por outro, não há dúvida que o ritmo dessa recuperação ainda está muito longe do ideal. Para entender melhor o real estado da economia nacional e, a partir daí, tentar traçar um panorama razoável de suas perspectivas de médio e longo prazos, é necessário analisar em detalhe dados mais consistentes do que, digamos, a produção de caixas de papelão, termômetro tradicional do desempenho da atividade comercial. O crescimento real de uma economia mede-se pela evolução dos investimentos na produção, refletida no consumo aparente – ou seja, a produção interna, menos as exportações e mais as importações – de máquinas e equipamentos.

Máquinas e EquipamentosNos últimos anos, tanto os fabricantes nacionais quanto os importadores de bens de capital têm sofrido do mesmo mal: a crescente falta de encomendas. A produção interna, que já alcançou patamares dignos de uma país industrializado como o Brasil, tem visto seu faturamento global se reduzir em percentuais de dois dígitos. Muito maiores, portanto, do que os tímidos índices da recuperação do PIB que os analistas têm estimado. De acordo com o relatório mensal de novembro da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), no período de janeiro a outubro, o consumo de máquinas e equipamentos registrou uma queda acumulada de 20,4%, em comparação como o mesmo período de 2016. Os resultados compilados pela entidade indicam também que 2017 será o quarto ano consecutivo de queda nos investimentos produtivos do país . Como não poderia deixar de ser, esse desempenho se refletiu no da receita líquida total das empresas do setor na comparação interanual. Nesse período, a redução na receita líquida interna foi de 4,3%, resultado compensado por um crecimento de 13,1% na receita obtida com as exportações. Como resultados dessas duas evoluções, a receita líquida total do setor acumulada no período caiu 3,1%, em comparação com o mesmo período de 2016.

Vale lembrar que a disposição para investir em máquinas e equipamentos depende de uma perspectiva positiva de longo prazo na demanda de bens, não se comparando – nem de longe – com a disposição de comprar um bem de consumo. Todo o contexto e a complexidade da crise que tem reduzido os investimentos e, consequentemente, a demanda de máquinas e equipamentos no País estão abordados de forma precisa no artigo assinado pelo presidente executivo da Abimaq, José Velloso, e publicado nesta edição.

Confiança na recuperação

Máquinas e EquipamentosAo reduzir o consumo aparente de máquinas, a crise também afetou a venda de máquinas importadas pelas empresas associadas à Associação Brasileira de Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei), que vêm registrando uma queda acentuada em suas transações comerciais. “Desde 2014 até meados deste ano, o mercado tem sido terrível, com uma queda muito grande nos investimentos por causa da crise econômica, mas nós já estamos sentindo que ele parou de cair e que, realmente, está mais aquecido. Os projetos de investimento que estavam engavetados nos orçamentos de 2017 estão sendo reativados, com a possibilidade de alocar verbas de investimento, mas num volume proporcional ao seu faturamento, ou seja, ainda num patamar reduzido. A tendência, porém, é de que a situação melhore em 2018”, afirma o presidente da Abimei, Paulo Castelo Branco, com o aval de seu cargo na entidade e da experiência acumulada por sua empresa, Tecnopress, que há três décadas atua na área de estamparia e linhas de corte transversal de metais.

Na avaliação de Castelo Branco, a palavra que melhor define a atual tendência do mercado é precaução, por dois motivos. Primeiro porque, como houve uma redução drástica no faturamento das empresas que vendem produtos acabados e usam maquinários para produzir, a primeira coisa que elas cortam são os investimentos e, depois, a manutenção. “Neste caso, da manutenção, estamos percebendo que muitas empresas já voltaram a fazer e estão comprando as peças para colocar as máquinas que já têm em ordem, para voltar a ocupar sua capacidade ociosa de produção e, num segundo momento, devem investir em novos projetos para aumentar a produção – mas ainda não estão nesta fase. Ou seja, os empresários estão começando a ‘soltar o freio de mão’, que estava puxado, e agora estão só com o ‘pé no freio’. E, conforme o mercado se comporte, vão soltá-lo ou mantê-lo apertado”, explica o presidente da Abimei.

“O segundo fator a ser considerado é a parte política, que ainda está falhando. Todo mundo estava ansioso por saber o que ia acontecer no ambiente político, especialmente em relação ao processo movido contra o presidente, que também atrapalha bastante, porque os investimentos são feitos no médio e longo prazo. Todos ainda estão muito preocupados com o que vai acontecer nos próximos 12, 18 ou 24 meses, pelo menos, porque esse é o prazo para se obter o payback dos investimentos, já que o prazo de instalação de qualquer máquina varia de 60 a 180 dias. Raros são os equipamentos que podem ser colocados para funcionar no curto prazo. O pior momento do mercado foi em 2016. Em comparação com o começo de novembro de 2016, realmente estamos numa situação melhor, mas ainda numa situação difícil. As linhas de crédito disponíveis no mercado são escassas, muito difíceis de obter, tanto para as empresas quanto para as pessoas físicas. E se o consumidor não consegue crédito, a indústria muito menos”, completa Paulo Castelo Branco.

Otimismo moderado

Máquinas e EquipamentosAlém de ser um dos mercados mais importantes para os produtos siderúrgicos, o desempenho dos fabricantes de máquinas e equipamentos também reflete a atividade desse segmento. A Divimec Tecnologia Industrial Ltda., tradicional fabricante de linhas de corte, embalagem e alimentação, e de equipamentos especiais para processamento de bobinas de aço, sediada em Glorinha (RS), tem sentido o efeito direto das oscilações do mercado. “A demanda continua decrescente, mas a queda, que já foi de 30% ao ano, agora está mais amena, ou seja, entre 15% e 20%”, explica o presidente da empresa, Claudio Flor. “O motivo dessa situação acredito que seja uma combinação entre o baixo consumo e os juros elevados. As autoridades da área econômica decidem os incentivos dados ao financiamento sem computador o retorno de impostos. Explico melhor o nosso caso especifico: uma linha de corte longitudinal custa entre 3 e 5 milhões de reais e produz, no mínimo, 2.000 toneladas mensais, de onde o governo recolhe de 20% a 30% de impostos. É uma conta simples de verificar: quem subsidia quem?”

As exportações continuam sendo uma alternativa de mercado para a Divimec, mas Claudio Flor considera que a taxa de câmbio favorável seria em torno de R$ 3,80 por dólar. Mesmo assim, a empresa tem linhas de corte longitudinal em funcionamento no Chile, México e Argentina, e este ano já exportou duas dessas linhas para o Paraguai. “Apesar do dólar defasado, temos conseguido exportar porque garantimos a assistência técnica às empresas desses países”, explica o diretor da Divimec.

Para a Esquadros, fabricante de linhas de corte, perfiladeiras e linhas de alimentação de prensas, o mercado encontra-se em processo de recuperação, com empresas se preparando para investir, mas que ainda relutam em tomar decisões. “Parece que estão esperando algum sinal a mais para dar esse passo e nós acreditamos que, em algum momento, vai haver um grande boom de negócios”, confia Claudio Luiz da Silva, sócio diretor da Esquadros. “No entanto, para fazer uma previsão em números sobre um possível crescimento, seria necessário ter uma bola de cristal, porque, neste momento não se consegue enxergar nada de concreto. Sabemos que está melhorando, porque há muitas propostas sendo feitas, mas o fechamento de novos negócios continua abaixo da média e do esperado. Para nós, o ano até estava correndo muito bem até surgir o caso da JBS, na semana posterior à Expomafe, que foi uma feira fantástica, mas os negócios acabaram não sendo concluídos por causa desse problema político. Quando achávamos que o mercado se recuperaria, exatamente depois à Corte e Conformação, surgiu a nova denúncia e a possibilidade de um novo impeachment, travando o mercado novamente.”

Máquinas e EquipamentosPara o diretor da Esquadros, o problema é justamente o impasse na política, mas ele acredita que essa questão está sendo resolvida. “Se o presidente não sair, eu penso que, nos próximos meses, nós vamos ter um movimento muito positivo de crescimento do investimento em máquinas. É claro que nós também ficamos com um olho voltado na questão da Previdência, porque se ela não for para a frente, corre-se o risco de se perder todo o impulso desse início de recuperação”, completa Claudio Luiz da Silva.

Ameaças e oportunidades

“Toda crise é uma combinação de ameaças e oportunidades”, opina João Carlos Visetti, presidente da Trumpf Brasil, empresa alemã de alta tecnologia, que oferece soluções de fabricação nas áreas de máquinas-ferramenta, tecnologia laser e eletrônica. “O mercado caiu um pouco mais de 10% do que já foi no passado, mas nós trabalhamos intensamente para apresentar inovações, conseguimos ampliar nossa participação no mercado e fomos melhorando nossa situação ano a ano. A crise começou no ano fiscal 2014/15, que foi muito ruim, e o de 2015/16 foi pior ainda, mas em 2016/17 já houve uma recuperação e, agora, o de 2017/18 está sinalizando um crescimento melhor ainda. Portanto, nós acreditamos que o pior já passou”, afirma Visetti. “Como nosso prazo de entrega é longo e aqui, no Brasil, varia de quatro a oito meses, o que houve foi um crescimento de 30% cento na entrada de pedidos entre 2015/16 e 2016/17. Hoje, nós temos muitos funcionários ocupados em projetos e discussões e, portanto, a tendência é de que esse crescimento esperado realmente ocorra nos próximos meses.”

Na opinião de Visetti, a oportunidade gerada pela crise decorre do fato de que, para enfrentá-la, os empresários sentiram a necessidade de melhorar a produtividade de suas linhas de produção. “Em anos de crescimento frenético, como o Brasil viveu até o surgimento da crise, as pessoas só pensavam em investir para aumentar a produção. Quando se está crescendo a passos largos, as empresas, principalmente as pequenas e médias, não têm tempo para pensar. Ou seja, o mercado não estaria tão focado em soluções de melhoria de produtividade como está agora, se a crise não tivesse acontecido. A crise também faz uma seleção natural: empresas que não têm tecnologia e, consequentemente, não têm uma boa produtividade acabam sucumbindo.”

Máquinas e EquipamentosA Trumpf, segundo Visetti, tem uma política focada no constante aprimoramento tecnológico e tem dado passos largos no sentido de se inserir na era da digitalização, tanto dela própria quanto dos seus clientes, oferecendo soluções que melhoram a produtividade dos equipamentos através do uso de algoritmos de manutenção preventiva. “Isso é fruto de um aprendizado de 17 anos com um sistema de coleta e armazenamento de dados sobre problemas das máquinas, que vieram primeiro como algoritmos de autodiagnóstico dentro do equipamento. Agora, como uma capacidade de processamento maior, que acontece na ‘nuvem’, nós temos condições de, por exemplo, relacionar uma unidade laser do estado sólido, numa máquina de fibra, com 500 variáveis em tempo real, para saber como está, inclusive, o comportamento de corte da máquina. Isso traz benefícios para o cliente”, explica o executivo da Trumpf Brasil. “Só para se ter uma ideia, nós monitoramos em tempo real uma série de unidades lasers de um dos nossos clientes em todo o mundo, e conseguimos melhorar o uptime de 92% para 97%; as paradas não programadas estão tendendo a zero e o sistema chega ao ponto de que o responsável pela manutenção de uma planta recebe uma chamada que diz: ‘o operador da máquina X mudou a distância focal, aumentou demasiadamente o índice de reflexão e isso pode gerar tais problemas. Por favor, peça para que retorne à posição anterior’”.

Em compasso de espera

Considerado um dos cinco maiores países emergentes, o Brasil continua despertando o interesse dos fornecedores mundiais de máquina e equipamentos com tecnologia avançada, destinados a projetos especialmente desenvolvidos. Esse tem sido o mercado atendido pela Eurolatina Representações, que há mais de duas décadas representa empresas alemãs fabricantes de equipamentos alto teor tecnológico e sem similar nacional – mas que também tem sentido os efeitos da crise. “No início da década de 1990, havia muitas empresas alemãs interessadas em trabalhar no Brasil. Logo, elas perceberam que não bastava ter um representante no Brasil; elas queriam ter uma presença mais direta e, então, nós abrimos cerca de 20 empresas para clientes da Alemanha”, explica o diretor da Eurolatina, Karlheinz Kurt Naumann. “Nessa época, nós vendemos muito bem, mas, desde o início desta crise, há cerca de três anos, os negócios têm ficado muito mais difíceis. Eu visito muitas empresas siderúrgicas e costumo ver maquinário bem velho, que precisa realmente de uma readequação ou modernização. Só que essas empresas têm uma capacidade ociosa tão grande, que não chegam a usar dois terços da capacidade instalada e que, portanto, não vão investir na remodelação de máquinas paradas.”

Máquinas e EquipamentosSegundo Naumann, a demanda por equipamentos de grande porte e com alto teor tecnológico, como, por exemplo, linhas para a produção de bobinas para grandes motores e geradores, já foi maior, mas no momento é pequena porque as poucas empresas existentes nesse mercado têm adiado suas decisões para realizar novos investimentos, à espera de uma melhor definição das reformas que o atual governo pretende implementar. “A demanda reduzida tem levado algumas empresas brasileiras a se expandir fora do Brasil. Por outro lado, a demanda dos equipamentos que representamos sempre vai existir, porque praticamente não temos concorrência nos ramos em que atuamos. Podemos dizer que nossas máquinas são caras, porque não são máquinas de prateleira; não temos catálogo de máquinas. Uma das nossas representadas, a BWG do Brasil, por exemplo, vende equipamentos para o processamento de aços planos em siderúrgicas, que podem custar entre 1 milhão e 50 milhões de euros. São equipamentos muito avançados, com tecnologia de ponta, que exigem acompanhamento completo, desde o projeto até a sua instalação e colocação em funcionamento.”

Máquinas e EquipamentosO diretor da Eurolatina afirma ainda que a falta de financiamento tem sido o principal fator que tem inibido a retomada dos investimentos, principalmente para os equipamentos oferecidos pela sua empresa, que não têm conteúdo local e que, muitas vezes, são importados no regime especial de Ex-tarifário. “Mesmo assim, nós temos muitos clientes que são empresas familiares, razoavelmente pequenas, mas grandes o bastante para comprar um maquinário nosso – e elas sofrem com isso, porque não têm acesso ao Finame, embora antigamente o Finame tenha financiado produtos importados que tinham Ex-tarifário. Isso é agora muito difícil; implica tanta burocracia e exigências, que essas operações ficaram inviabilizadas”, completa Naumann.

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