Depois de cinco anos em franca recessão, a indústria nacional de máquinas e equipamentos encerrou o ano em um clima de alívio, mas ainda longe da euforia
Por Ricardo Torrico
Tendo encolhido até quase a metade no período de 2013 a 2017, a receita líquida total da indústria brasileira de máquinas e equipamentos − um dos principais setores usuários de aço − registrou em 2018 um crescimento de 7% em relação à receita de 2017. De acordo com o levantamento feito pelo Departamento de Competitividade, Economia e Estatística (DCEE) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o crescimento das vendas em 2018 se concentrou no mercado externo, enquanto o mercado doméstico registrou uma relativa estabilidade, com um tímido aumento de 0,3%. Para o ano de 2019, a expectativa da Abimaq é que a receita total do setor continue crescendo, mas em taxas levemente inferiores às observadas em 2018, impulsionado principalmente pelo mercado doméstico.
Vale observar que, apesar do resultado anual positivo, no mês de dezembro de 2018, a receita do setor encolheu 0,8% sobre dezembro de 2017. Não se descarta, porém, a possibilidade de que isso tenha sido apenas um sobressalto inesperado, provocado pelas incertezas inerentes ao processo eleitoral.
Exportações − Em 2018, o setor fabricante de máquinas e equipamentos registrou fortes oscilações nas suas exportações, mas manteve o volume de vendas bem acima dos níveis observados em 2017, encerrando o ano com um crescimento de 7,1%. Visando fazer frente ao encolhimento do mercado doméstico, já em 2017, o setor tinha ampliado suas exportações em quase 17%, passando a representar 44% do total das suas receitas. Em 2018, a participação das exportações na receita total ganhou ainda mais importância, atingindo 47%. Esse desempenho ocorreu apesar da redução drástica das importações de máquinas e equipamentos por parte da Argentina − um dos principais mercados externos do setor −, que acabou provocando quedas de 8,6% e 18,2% nas exportações, respectivamente, à América Latina e Mercosul.
O bom desempenho global das vendas externas foi observado em quase todos os segmentos da indústria de máquinas e equipamentos, com destaque para o forte aumento das vendas realizadas no setor de óleo e gás (+43%), nos setores fabricantes de bens de capital (+12%) e na construção civil (+7,8%) . Quase metade das vendas de máquinas e equipamentos brasileiros (46,0%) tiveram como destino os Estados Unidos e a Europa, 37,2% foram exportados à América Latina e 16,8% aos demais destinos.
Consumo em alta − Os investimentos produtivos, medidos pelo consumo aparente de máquinas e equipamentos (produção – exportação + importação) registrou um crescimento de 13,4% em 2018, após quedas consecutivas nos últimos quatro anos. Num cenário de fraca recuperação da atividade econômica, esse resultado indica a probabilidade de um aumento mais intenso da demanda de produtos manufaturados em 2019.
Paralelamente, o nível de utilização da capacidade instalada do setor também registrou uma tendência de recuperação, mas ainda se encontra em um patamar bastante baixo (75%), o que significa que, a exemplo do que ocorre nos demais setores da indústria de transformação, ainda há espaço para uma expansão das atividades com a atual capacidade instalada. A carteira de pedidos se estabilizou em Indústria de Máquinas e equipamentosInvestimentos previstos e realizados -R$ Milhões ConstantesFonte e Elaboração: DCEE/ABIMAQ. * 2019 previstos 2 meses, mas a expectativa é de que esse indicador retorne ao seu patamar histórico, acima de 4 meses, quando o setor de infraestrutura voltar a investir.
Outro sinal positivo para a indústria de máquinas equipamentos tem sido a retomada das contratações de mão de obra. Em meados de 2013, quando teve início o encolhimento dos postos de trabalho, o setor empregava quase 380 mil pessoas, volume que acabou se reduzindo para 291 mil pessoas em 2017. Já em 2018, o setor retomou o processo de contratações, reempregando quase 10 mil pessoas. A expectativa da Abimaq é que essa recuperação do nível de emprego continue ao longo de 2019.
Novos investimentos
Depois de ter registrado uma relação média de 9,3% entre os investimentos e a receita líquida de vendas no período de 2010 a 2013, nos últimos anos o setor de máquinas e equipamentos tem apresentado uma drástica redução desse indicador, chegando a ficar em 3,0% em 2018. No entanto, já existem indícios de uma reversão nessa tendência. Uma pesquisa elaborada DCEE da Abimaq indica que os fabricantes do setor preveem investir mais de R$ 2,7 bilhões em 2019, o que significaria uma alta 30,1%, em relação ao volume de recursos investido em 2018.
A pesquisa revelou ainda que as micro, pequenas e médias empresas estão mais dispostas a investir este ano, prevendo ampliar em torno de 50% os investimentos realizados em 2018. Já nas grandes empresas, a previsão de novos investimentos deve superar em torno de 18% os que foram realizados em 2018. Dos investimentos esperados em 2019, 35,5% devem ser destinados à modernização tecnológica, 30,5% na reposição de máquinas depreciadas, 24% na ampliação da capacidade industrial e 10% em outras áreas.
“A saída para o Brasil voltar a crescer é o investimento na indústria de transformação por conta de seu maior valor agregado e pelos maiores ganhos de produtividade, além de gerar emprego e renda para os brasileiros. Os investimentos devem ganhar mais fôlego somente no segundo semestre, quando algumas reformas forem aprovadas e o nível de ociosidade, que hoje se encontra em 25%, for reduzido”, afirma o presidente da Abimaq, João Marchesan.