As propostas do novo governo, favoráveis ao mercado, criaram expectativas positivas, mas que ainda devem levar algum tempo para se concretizar
Depois de um processo eleitoral tenso, marcado por inúmeras polêmicas, no primeiro dia deste ano assumiu a Presidência do Brasil o ex-capitão do Exército e ex-deputado federal Jair Messias Bolsonaro, prometendo promover mudanças que permitam reaquecer a quase estagnada economia nacional. Passados mais de dois meses de sua posse, pode-se dizer que − na medida do possível − ele vem cumprindo essa promessa, tendo entregue ao Congresso Nacional uma proposta para a tão propalada reforma da Previdência, destinada a reduzir o enorme e crescente déficit fiscal. Quando e como essa proposta será aprovada, eis a questão, já que, numa democracia, propostas para uma mudança radical como essa precisam ser amplamente debatidas para se chegar a um consenso que seja, ao mesmo tempo, efetivo e factível.
Mas, enquanto isso não acontece, os agentes econômicos precisam se orientar pelas expectativas criadas, ou seja, pelo feeling generalizado de que ‘tudo vai dar certo’ − embora não se saiba quando. Pelo menos, é isso que tem ocorrido neste início de mandato de Bolsonaro, condicionando os empresários a escolher entre pisar no freio ou no acelerador. Os indicadores colhidos sobre 2018 e janeiro deste ano indicam mudanças positivas, embora ainda prudentes, na confiança de empresários e consumidores, mantidas, porém, as especificidades de cada setor e segmento de mercado.
Ritmo lento
No caso do indústria siderúrgica nacional, em 2018, o crescimento da produção de aço bruto acompanhou pari passu o desempenho do PIB. Segundo o levantamento feito pelo Instituto Aço Brasil (IABr), as siderúrgicas brasileiras produziram 34,35 milhões de toneladas de aço bruto, evoluindo 1,1%, em relação à produção registrada em 2017, índice exatamente igual ao crescimento do PIB nacional, anunciado pelo IBGE no dia 28 de fevereiro. A produção de laminados atingiu 23,1 milhões de toneladas, volume 3,3% superior ao do ano anterior, e a de semiacabados totalizou 9,9 milhões de toneladas, crescendo 0,5% na mesma base de comparação.
O consumo aparente nacional de produtos siderúrgicos (produção interna + importações − exportações) foi de 20,6 milhões de toneladas no mesmo período, o que representa uma alta de 7,3% no acumulado de 2018, em comparação com 2017. As vendas internas foram de 18,3 milhões de toneladas, evoluindo 8,2% sobre as vendas contabilizadas no ano anterior. As importações alcançaram 2,4 milhões de toneladas, o que se traduz em uma expansão de 3,3% frente ao volume importado em 2017. Em valor, as importações atingiram US$ 2,6 bilhões, valor 16,9% superior ao do ano anterior.
Apesar das expectativas, os resultados de janeiro de 2019 ficaram aquém do que seria uma retomada consistente: a produção de aço bruto foi de 2,9 milhões de toneladas, evoluindo 2,3% sobre o mesmo mês de 2018; a produção de laminados foi de 1,8 milhão de toneladas, o que significa uma queda de 3,1% na mesma base de comparação; e a produção de semiacabados totalizou 729 mil toneladas, encolhendo 9,2% em relação a janeiro de 2018.
Bloqueio inesperado
No entanto, um fato marcou o setor neste início de ano: a imposição, pela União Europeia, de novas barreiras contra o aço importado de outros produtores, entre eles o Brasil, anunciada no dia 16 de janeiro. Segundo os países do bloco europeu, a medida é uma reação ao grande fluxo de produtos siderúrgicos que passou a inundar o mercado local depois que o presidente norte-americano, Donald Trump, decidiu erguer barreiras ao aço mundial, criando distorções e redirecionando para a Europa a produção anteriormente destinada aos Estados Unidos.
Segundo o IABr, a decisão da União Europeia de restringir suas importações de aço, adotando cotas e uma sobretaxa de 25% para os volumes que ultrapassem as referidas cotas, não surpreendeu, uma vez que a UE já tinha adotado uma salvaguarda de 200 dias − de gosto de 2018 a fevereiro de 2019. A medida, que começou a vigorar em 02 de fevereiro e deve durar até julho de 2021, foi uma reação à Seção 232 imposta pelos Estados Unidos no ano passado. Mesmo assim, a medida adotada pela UE agrava a situação conturbada já existente no mercado internacional, reduzindo o potencial exportador da indústria brasileira do aço.
Ainda de acordo com o IABr, a UE é um mercado importante para o Brasil, sendo responsável pelo consumo de 15% das exportações brasileiras de aço. Em 2018, o Brasil exportou 2,1 milhões de toneladas de aço para aquele mercado, o que significou um faturamento de US$ 1,4 bilhão. No entanto, essa medida de proteção exclui os produtos siderúrgicos semiacabados, grupo que representou 1,2 milhão de toneladas e US$ 611 milhões de faturamento nos totais mencionados. Avaliações preliminares indicam que as medidas adotadas pela UE podem acarretar uma redução de US$ 90 milhões a US$ 100 milhões por ano nas exportações brasileiras de aço para aquele mercado.
“A decisão da UE reforça a guerra de mercado, que tem como pano de fundo o excedente de capacidade de 550 milhões de toneladas de aço. Esse cenário tem ocasionado uma escalada protecionista, com o fechamento de vários mercados, enquanto a América Latina − e em especial o Brasil − continua aberta. Segundo dados da Associação Latino Americana do Aço (Alacero), as exportações de aço da China para o mundo caíram 5% de junho a dezembro de 2018, mas cresceram 28% para a América Latina”, completa a nota divulgada pelo IABr em 21 de fevereiro deste ano.