quinta-feira, novembro 21, 2024
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Mercado livre: a hora é agora

Depois de registrarem aumentos da ordem de 50% em 2015, as tarifas de energia elétrica devem continuar tendo altas substancialmente superiores à inflação nos próximos anos. Os aumentos expressivos, que têm sido verificados desde 2013, devem-se a diversos passivos do setor, como os custos de concessionárias de distribuição com exposição involuntária ao mercado de curto prazo de energia, à valorização do dólar (que impacta principalmente as tarifas das distribuidoras que compram energia de Itaipu) e ao aumento dos encargos setoriais.

Mercado livre:  a hora é agoraPara a cadeia produtiva da metalurgia, o aumento dos custos de insumos primordiais para a produção, como a energia, tem impacto direto nas operações. Combinada com os desafios relativos à crise econômica, essa situação contribui para o acirramento dos problemas do setor, fortemente impactado pela redução da demanda interna e pela crise global das commodities.

Os dados do mercado de trabalho retratam bem essa situação. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), no primeiro semestre deste ano a indústria metalúrgica poderá demitir até 30 mil funcionários, acompanhando uma queda que vem se agravando desde 2014, ano em que apenas indústria do aço – um dos segmentos mais fortes da metalurgia – demitiu mais de 10 mil empregados. Por trás dos números, situações como a da Usiminas que, no final do ano passado, anunciou a paralisação gradual de toda a produção de aço em Cubatão. A situação se repete Brasil afora, como pode ser percebido pelo balanço anual do número de funcionários das principais indústrias metalúrgicas de Caxias do Sul. Conforme detalhado no gráfico a seguir, a quantidade de profissionais contratados na região caiu de 54 mil no início de 2012 para 36,9 mil no final do ano passado.

Embora a produção nacional venha diminuindo significativamente, o aço segue como uma das principais matérias-primas de processos automotivos, na construção civil e em muitos outros setores. Porém, o aço que alimenta esses mercados agora é importado da China. Conforme tem sido noticiado pela imprensa, há 10 anos, apenas 1,3% do aço utilizado no Brasil era importado do país asiático, hoje esse número ultrapassa 50%.

Evidentemente que o custo elevado da energia não explica, sozinho, essa situação difícil enfrentada hoje pela indústria. A busca de alternativas mais competitivas pode, de qualquer forma, servir como um alento para as empresas que ainda têm algum folego. A migração para o mercado livre de energia por empresas que ainda encontram-se ligadas apenas à distribuidora de sua região é uma opção para reduzir custos, evitando reajustes ainda mais pesados sobre seus orçamentos.

Mercado livre:  a hora é agoraDe acordo com informações da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), os consumidores que migram para o mercado livre verificam uma redução média de 22% nos seus gastos com energia. Essa redução está associada principalmente às diferenças nas condições de contratação do insumo entre distribuidoras e comercializadoras. Outra diferença relevante é que, no ambiente de livre contratação, as indústrias podem contar com gestão dedicada da energia, de modo a garantir as condições mais adequadas para o seu negócio e melhores condições de previsibilidade dos gastos. A redução com os gastos de energia pode ser ainda maior, por meio de uma estratégia de gestão de compra de energia, considerando aspectos como as melhores negociações em termos de preços, prazos e volume, entre outras variáveis.

Atualmente, o mercado livre representa 24,5% do mercado nacional de energia, tendo registrado um consumo de 14.342 MW em 2015. Existe espaço, no entanto, para montante muito mais significativo: segundo a Abraceel, aproximadamente 14 mil consumidores têm condições legais de migrar para o ambiente livre, o que poderia elevar sua representatividade para 46% do mercado.

Importante observar, ao mesmo tempo, que as empresas participantes também se beneficiam indiretamente das reduções de tarifas – caso o ganho no Ambiente de Contratação Livre (ACL) de energia não seja satisfatório, o consumidor tem a liberdade de solicitar seu regresso ao mercado regulado. Mas, diante da perspectiva de as tarifas de energia seguirem em alta, certamente observaremos cada vez mais empresas tomando a direção contrária, aproveitando o mercado livre como alternativa para ajudar na recuperação de setores industriais como o da metalurgia.

* João Carlos Mello é presidente da Thymos Energia

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