A indústria nacional de máquinas e equipamentos deve demorar para voltar a colher os bons resultados obtidos na primeira metade desta década, mas − pelo menos − tem detectado uma boa disposição dos seus usuários para voltar a investir
Por Ricardo Torrico
Já se passaram nove meses desde que Jair Bolsonar assumiu a Presidência e, consequentemente, as rédeas da economia, mas ela ainda ‘anda de lado’, esperando as soluções necessárias para uma retomada minimamente consistente do crescimento do PIB. Uma situação de letargia como essa acaba inibindo novas decisões de investimentos produtivos, principalmente em novas máquinas e equipamentos industriais. No entanto− apesar dos pesares −, os números colhidos pelo Departamento de Competitividade, Economia e Estatística (DCEE) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) indicam que existe uma demanda reprimida de máquinas e equipamentos, como pode ser inferido dos principais indicadores divulgados pela entidade e que uma retomada mais consistente depende da aprovação das reformas que se encontram em tramitação no Congresso nacional.
Além dos dados divulgados pela Abimaq, leia também nesta edição as entrevistas com, Maria Cristina Zanella, gerente do DCEE da Abimaq, e com Ennio Crispino, presidente do Conselho Administrativo da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei).
Indicadores do setor
Receita líquida total − No mês de julho, a receita líquida da indústria brasileira de máquinas e equipamentos registrou um crescimento de 2,4% em relação ao mês imediatamente anterior, mas uma queda de 5,2% quando comparado com julho de 2018. Em função disso, o crescimento acumulado no ano de 2019 encolheu mais um pouco: de +3,9% no encerramento do primeiro semestre para +2,4% no acumulado de janeiro e julho. Segundo o DCEE da Abimaq, em julho, a piora nas vendas foi provocada pelo mercado doméstico, que encolheu 9,8% em relação ao mês anterior e 17,2% sobre julho de 2018. Apesar disso, o mercado doméstico acumulou um crescimento de 5,8% no período de janeiro a julho deste ano.
Exportações − Apesar da desaceleração generalizada observada no cenário internacional, em julho de 2019, as exportações de máquinas e equipamentos registraram um bom desempenho, crescendo 24,1%, tanto em relação ao mês anterior como sobre julho de 2018. Esse forte crescimento resultou de exportações feitas ao Paraguai e à Holanda, que, juntos contribuíram para reduzir a queda de 7,1% acumulada no primeiro semestre de 2019 para 3,2% no período de janeiro a julho. A desaceleração das atividades nos países da zona do Euro, as tensões entre EUA e China e a crise na Argentina ajudam a explicar a queda das exportações brasileiras de máquinas e equipamentos nos sete primeiros meses deste ano.
Importações − No mês de julho de 2019, as importações de máquinas e equipamentos cresceram novamente, tanto em relação ao mês de junho(+11,1%) quanto na comparação com julho de 2019 (+19,9%). Com isso, no período de janeiro a julho deste ano, o crescimento das importações de máquinas chegou a 10,8%, na comparação com o mesmo período de 2018. Importante destacar que esse crescimento se concentrou no segundo trimestre do ano, o que indica uma clara melhora dos investimentos realizados com bens importados. A expectativa é de que essa tendência atinja também a produção nacional de máquinas e equipamentos.
Consumo aparente − O consumo aparente de máquinas e equipamentos (produção – exportações + importações), medido em R$ bilhões constantes, registrou um crescimento de 1,7% no mês de julho de 2019 em relação ao mês imediatamente anterior, mas também uma queda de 0,9% quando comparado com julho de 2018, desempenho esse que ocorreu devido ao aumento do consumo de bens importados. Já a aquisição de máquinas nacionais recuou 10% sobre junho de 2019 e 17% sobre julho de 2018. No período de janeiro e julho, o consumo aparente registrou um crescimento de 9,6%, ou seja, ligeiramente abaixo do crescimento de 11,8% acumulado no primeiro semestre, provavelmente refletindo a desaceleração das atividades observada no segundo trimestre deste ano.
Utilização da capacidade instalada − Após a forte crise econômica que levou ao encolhimento tanto do estoque de capital como de mão de obra, a indústria de máquinas e equipamentos continua atuando com forte ociosidade. Em julho de 2019, o setor atuou com 73,9% da sua capacidade instalada − um recuo de 2,8% em relação ao mês de junho de 2019. A carteira de pedidos também continua em níveis historicamente baixos. O setor de bens sob encomenda, cuja carteira girava ao redor de 6 meses, praticamente desapareceu com a ausência de investimentos na infraestrutura do país. O volume desses investimentos corresponde a 1,7% do PIB, quando, para se igualar com a média mundial, precisaria ser ao redor de 5%.
Emprego − Após ter-se reduzido em mais de 90.000 o número de pessoas empregadas na indústria brasileira de máquinas equipamentos em 2018, o setor retomou o processo de ampliação e contratou 10.000 pessoas. Em 2019, mesmo com a atividade ainda fraca, o setor manteve as contratações e encerrou o mês de julho com mais 8.000 pessoas empregadas sobre o final de 2018, atingindo um total de 309.000 funcionários. É oportuno observar que a indústria de máquinas e equipamentos se destaca por ser um dos setores que melhor remuneram sua mão de obra no país, com um patamar estimado em 86% acima da média nacional.