O novo presidente da Anfavea espera que com o fim do impasse da crise política,o setor ganhe fôlego até o final deste ano
Independente dos desdobramentos que o momento político impõe ao País, Antonio Carlos Botelho Megaleirá trabalhar pela recuperação do mercado de veículos até o final deste ano. Este foi um dos anúncios feitos pelo executivo,no dia 25 de abril,por ocasião da sua posse à presidência da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e do Sindicato Nacional da Indústria de Tratores, Caminhões, Automóveis e Veículos Similares (Sinfavea). Para tanto,Megale queé diretor de assuntos governamentais na Volkswagen do Brasilafirmou a necessidade da associação se reunir com técnicos do Ministério do Desenvolvimento, da Indústria edo Comércio (MDIC), Ministério das Cidades e do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).A Anfavea reúne 32 empresas fabricantes de autoveículos (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus) e máquinas agrícolas (tratores de rodas e de esteiras, colheitadeiras e retroescavadeiras) com instalações industriais e produção no País.
Outra preocupação donovo presidente – que já exerceu funções em diversas montadoras e, inclusive, presidiu a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA),nas gestões 2011-2014, é a manutenção da mão-de-obra brasileira especializada e, neste sentido, defende o Programa de Proteção ao Emprego (PPE). Ele enfatizou que na sua gestão dará sequência ao esforço de unir todos os elos que formam a cadeia automotiva, pois isto é fundamental para fortalecer a indústria automobilística nacional. “Buscaremos também ampliar nossas exportações e promover uma nova política industrial que contemple eficiência energética, fortalecimento da cadeia produtiva e pensamento de mobilidade”, frisou.
Ele reconhece que terá um grande desafio pela frente. Dados de abril da própria Anfavea revelam que indústria automobilísticalicenciou no primeiro trimestre 481,3 mil veículos, o que significa retração de 28,6% frente as 674,4 mil unidades vendidas no mesmo período do ano passado. Nos três primeiros meses foram produzidas482,3 mil unidades, baixa de 27,8% frente as 667,6 mil do ano anterior. No acumulado, a queda registrada foi de32,1% em licenciamento de caminhões, com 13,1 mil unidades este ano perante as 19,3 mil em 2015. No trimestre, o total de unidades produzidas ficou 43,5% abaixo do mesmo período do ano passado, com 4,3 mil unidades este ano ante 7,7 mil do ano passado.
Já as vendas de máquinas agrícolas e rodoviárias encerraram março com acréscimo de 17,3% ao se comparar as 2,7 mil unidades no mês com as 2,3 mil negociadas em fevereiro. No comparativo contra março do ano passado, a retração foi de 43%, com 4,8 mil unidades naquele período. Até março deste ano a diminuição foi de 44%, quando comparados as 6,7 mil unidades com as 11,9 mil no ano anterior.
Impacto no aço
Tais números adquirem maior projeção quando os transportamos para a indústria do aço, destacando que o setor automobilístico é um dos mais competitivos no desenvolvimento e aplicação do produto. Principalmente levando em consideração o automobilístico (carros de passeio e motos) e o rodoviário (caminhões, ônibus e reboques/semirreboques) com suas demandas específicas.
No que diz respeito ao transporte público, por exemplo, há uma inercia na renovação de veículos, opina o professor da Faculdade de Engenharia da Universidade Santa Cecília (UNISANTA) e do departamento técnico da Inspebras, Willy Ank de Morais. A Inspebras atua no setor metal-mecânico e possui larga experiência em obras industriais, treinamentos técnicos e inspeções.
Para quem acompanha muito de perto o desenvolvimento do aço ao longo de 15 anos de vivência na área, Morais afirma que a atual crise que acomete não só o segmento automobilístico reflete negativamente no produto aço, puxando-o para baixo na escala da economia. “Trata-se de um setor que tende a consumir produtos mais nobres em aço, mas as restrições econômicas impõem não apenas um ritmo menor de consumo, como também maior agressividade na margem dos preços praticados”, analisa o professor.
Renovação da frota
Não é de hoje que os ventos não estão soprando favoravelmente. Já em 2013 como estímulo à renovação da frota de nacional de veículos, pela primeira vez na história, as principais entidades envolvidas com o transporte rodoviário de carga,em conjunto, apresentaram uma proposta para de estabelecimento do Programa Nacional de Renovação de Frota. Dez entidades, incluindo o Instituto Aço Brasil, estabeleceram as diretrizes básicas da renovação e melhoria da frota que, na época, contava com aproximadamente 200 mil caminhões com mais de 30 anos de uso. O projeto foi entregue ao MDIC, porém não apresentou resultados.
Outrora ocupando um lugar satisfatório no ranking da produção mundial de veículos, o Brasil perdeu posições e, atualmente, aparece atrás do México, sendo o nono da lista. Nesse cenário, o ramo autopeças tem sido favorecidoem função da diminuição da venda de veículos novos. Além disso, se beneficia do tamanho da frota nacional e da contínua necessidade de manutenção. Daí a justificativa para a estabilidade que se verificano mercado de peças e serviços.
Morais prevê que com a melhora na situação econômica, o mercado automobilístico e rodoviário, ora em retração, irá apresentar grande e rápida expansão, “com forte pressão na demanda interna e em toda a cadeia de fornecimento, especialmente nos produtos siderúrgicos. Hoje a demanda tende a manter-se apenas no setor de peças de reposição, que consome aços mais simples e comuns”, sentencia.
O especialista explica que especialmente os novos açostornam-se as bases dessa indústria, constituindo-se os componentes principais na estrutura dos veículos. Do mesmo modo, o material empregado está presente nos motores de combustão interna e o nos mais modernos motores elétricos. Neste contexto, Moraisidentifica três tipos de aços empregados:
* Aços mais nobres, de grande valor agregado -veículos mais seguros,econômicos e de melhor desempenho empregam grande quantidade de aços conhecidos como avançados, especialmentede alta resistência.
* Aços com proteção anticorrosiva – a consolidação do uso de aço com proteção anticorrosiva (com ênfase os galvanizados com zinco, liga zinco-ferro e liga zinco-alumínio) oferece maior longevidade aos veículos, possibilitando aos fabricantes estender o prazo de garantia de 1 para até 6 anos.
* Aços tradicionais – o barateamento e acessibilidade dos veículos foi obtida graças à redução dos custos de produção dos aços mais tradicionais
Destaque no segmento de transporte
Em época de economia conturbada, empresas que encontram uma luz no fim do túnel, nem que seja uma pequena válvula de escape, conseguem melhor posicionamento no mercado. Este é o caso da Tanesfil, empresa que nasceu como oficina de reforma e produção de tanques de asfalto, estacionários e filtros e, hoje, passados 40 anos é referência na excelência em fabricação de tanques especiais, apresentando soluções de transporte para sua carteira de clientes.
“O principal mercado atendido pela Tanesfil é o de transporte de asfalto interno” diz o diretor Renato Lena, ressaltando que no passado a empresa exportou equipamentos para Uruguai, Paraguai, Bolívia e Chile. “Agora, com a crise, observamos que tem aumentado a procura dos nossos produtos por empresas estrangeiras, provavelmente em função do preço atrativo e em razão da desvalorização da nossa moeda”, admite.
A empresa oferece soluções no transporte de cargas líquidas, plataformas autos socorro e perfilados. No setor de implementos rodoviários atende o segmento de transporte de produtos químicos, petroquímicos e alimentício. No setor de perfilados a utilização do produto é bem ampla, sendo que os principais mercados são implementos rodoviários, implementos agrícolas, construção civil e autopeças.
A Tanesfil se utiliza como matéria-prima o aço inox e aço carbono adquiridos no mercado interno. O diretor da empresa comenta, ainda, que a oferta do produto continua alta com preço estável, desconsiderando pequenas variações (aumento/diminuição).