Dentro do panorama generalizado de estagnação, a indústria de máquinas e implementos se destaca positivamente, refletindo a pujança do agronegócio brasileiro
Por Ricardo Torrico
Intrinsecamente ligada ao processo de industrialização, a indústria de máquinas e equipamentos tem sido duramente afetada pela incapacidade dos últimos governos de elaborar e colocar em prática uma política industrial eficiente e responsável. O resultado é que esse setor – um dos principais mercados de produtos siderúrgicos, nacionais ou importados – tem registrado resultados continuamente descendentes, levando a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) a afirmar que o Brasil passa por um processo de desindustrialização – não só do setor que representa como dos demais mercados que atende ou tem se esforção por atender. Dentro desse panorama de resultados altos e baixos – ou melhor, mais baixos que altos – dos últimos anos, há, porém, um segmento que tem se destacado precisamente por ter mais altos que baixos: o de fabricantes de máquinas e implementos agrícolas.
Resultados animadores
Além de ser um dos principais mercados consumidores de aço, a indústria de máquinas e equipamentos é também um ótimo termômetro do grau de investimento feito pelos demais setores industriais do país. Ou seja, em períodos de crise ou de expectativas de queda no faturamento, os empresários engavetam os projetos de novos investimentos e, quando a crise passa ou o mercado dá sinais de recuperação, eles os desengavetam. Resultados negativos têm sido registrados persistentemente pelo setor desde meados de 2012, quando sua receita líquida total se esteve próxima de 12 bilhões de reais, decrescendo mês a mês até um patamar que tem oscilado em torno de 6 bilhões de reais entre 2016 e 2018.
A novidade foi o bom resultado registrado em junho deste ano, em que o faturamento de todo a indústria de máquinas e equipamentos recuperou com folga o fraco desempenho registrado em maio, atingindo 7,12 bilhões de reais, valor 23% superior ao do mês anterior e também 13,1% superior ao de junho de 2017 – motivo suficiente para se acreditar numa retomada da confiança dos empresários industriais. No acumulado de janeiro a junho, o crescimento foi de 4,2% entre 2017 e 2018. Vale lembrar que, desde 2017, o mercado externo tem sido a estratégia utilizada pelos fabricantes do setor para compensar a redução do mercado interno, o que elevou a 47% a participação das exportações no faturamento total do setor.
Setor imune
Embora a crise econômica tenha afetado o setor de máquinas e equipamentos como um todo, o segmento de máquina e implementos agrícolas, conseguiu passar por ela praticamente ileso, acompanhando o bom desempenho do setor agrícola brasileiro. Os dados colhidos pela Abimaq entre as empresas associadas à sua Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) indicam que o faturamento do setor teve mais altos do que baixos entre 2002 e 2017, período abrangido pelos Indicadores Conjunturais divulgados pelos CSMIA. Mesmo tendo apresentando reduções drásticas de -43,9% em 2005, – 29,8% em 2009 e -31,0% em 2014, o faturamento do setor evoluiu 38,8% entre 2001 e 2017, em reais constantes – ou seja, descontada a inflação – e este ano promete retornar ao recorde de 14,4 bilhões de reais registrado em 2008. “Apesar de ser um ano de eleição, o ritmo dos negócios está relativamente animado, permitindo-nos trabalhar com a perspectiva de um crescimento de 8% no faturamento do nosso setor em relação ao ano passado”, afirma Pedro Estevão Bastos de Oliveira, presidente do CSMIA da Abimaq e diretor de Relações Institucionais da Máquinas Agrícolas Jacto, fabricante de equipamentos para agricultura de precisão nos segmentos de pulverização e adubação, sediada no município de Pompeia, no interior de São Paulo.
Segundo Pedro Estevão, entre 2012 e 2014, houve uma confluência de fatores favoráveis para a agricultura brasileira. Nesse período, por causa da seca ocorrida nos Estados Unidos, o preço internacional da soja chegou a US$ 17 o bushel – medida equivalente a 14,5 kg –, tendo voltado posteriormente ao patamar de US$ 9. Embora tenha sido um fenômeno pontual, o agricultor brasileiro acabou tendo uma boa rentabilidade. Junto com esse preço alto, ocorreu também a etapa final do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), cujos juros muito favoráveis, de 2,5%, estimularam a compra de equipamentos. “Consequentemente, em 2015 e 2016, o mercado caiu naturalmente em função do excesso de compras que tinha havido anteriormente – ou seja, o mercado voltou ao normal. Em 2017, o faturamento do setor foi de R$ 13 bilhões, mas este ano já estamos estimando um crescimento de 8% em cima desse valor”, explica o executivo da Jacto. “E no longo e médio prazo, as perspectivas para a agricultura brasileira continuam sendo positivas, porque nosso país é hoje um dos grande produtores e exportadores mundiais de alimentos e, haja o que houver, a população mundial sempre vai continuar crescendo, principalmente na Ásia. Tendo em vista isso, nós estamos otimistas em relação à agricultura brasileira e, consequentemente, ao mercado de máquinas agrícolas, que é um mercado bastante dinâmico. Se olharmos um período entre cinco e dez anos, obviamente não há como prever o comportamento nos preços das commodities, que dependem dos diversos fatores que afetam as safras no hemisfério Sul e no hemisfério Norte. O que dá para prever é que a demanda mundial de alimentos deve continuar crescendo – e que o Brasil tem capacidade para atender a essa demanda.”
Questionado sobre eventuais problemas no abastecimento de aço, Pedro Estevão afirma que, no que se refere à qualidade e prazos de entrega, os fabricantes de máquinas e implementos agrícolas são normalmente bem atendidos pelas empresas distribuidoras. “No que se refere à disponibilidade de aço, não existe nenhum problema para o nosso setor. Talvez algumas ligas especiais talvez não estejam facilmente disponíveis, mas isso é algo muito pontual. Mas, de uma maneira geral, não temos problemas de abastecimento”, explica o presidente do CSMIA da Abimaq. Ele ressalva, porém, que o mesmo não ocorre em relação aos preços, que sobem continuamente, acompanhando a evolução do mercado internacional. “O aço tem uma grande participação no custo das máquinas agrícolas que, de pendendo do modelo, pode oscilar entre 10% e 20%. Quando o preço internacional do aço sobe, também sobe no mercado interno, o que acaba tendo um impacto nos nossos custos de produção”, completa Pedro Estevão.